Um dia me perguntaram por que deixei a cidade grande para mudar para a vida sem graça do interior.
Com certa indignação a pessoa completou a pergunta:
- Não sente falta de lá?
Você é jovem, com amigos que moravam por perto. Fora as facilidades, shopping aberto aos domingos, mercado 24h, comércio completo. E as festas então! Nossa, de segunda a segunda tem coisa pra fazer...
E aqui, no interior, continuou ela; é tudo tão calmo, parado mesmo, a gente dá uma volta completa na cidade em apenas 10 minutos.
Parei, respirei fundo, era uma noite típica de outono. Tinha uma brisa meio fria, úmida, mas gostosa de sentir. Olhei para o céu, estava completamente limpo. Observei as estrelas, todas elas estavam lá, parecendo esperar também pela minha triste resposta.
Do outro lado da rua passava um cão vira-lata, sabe? Daqueles que andam cheirando o chão e abanando o rabinho ao mesmo tempo. Me lembrei dele, sempre passa pela minha rua, quase sempre no mesmo horário. Por um momento me perdi olhando e sentindo tudo aquilo e sem querer dei um pequeno sorriso, então voltei meu olhar a pessoa e calmamente respondi:
- É que lá, em São Paulo, a cidade que vocês chamam de grande, eu nunca tive tempo para sentar numa calçada, escutar uma pergunta, respirar profundamente olhando as estrelas e depois responder uma coisa tão simples como essa.
Na verdade, continuei, a cidade é tão grande, tão cheia de coisas, tão rica em detalhes, sotaques, aromas... que a gente acaba não tendo tempo para curti-la. Somos tomados pela pressa que assombra a falta de tempo a todo momento. Lá é tão grande que em 10 minutos às vezes nem saímos da nossa própria rua, e mesmo assim, cruzamos todos os dias com estranhos que abrem seus portões eletrônicos ali, logo ao lado de nossa casa.
Então é isso, "vizinho", mudei para poder conhecer melhor quem mora perto de mim! ;)
ClaudiaDudusD'Aniello
14/04/2010
14/04/2010